Conheça sagas de fantasia inacabadas e outras que ganharam novos autores após a morte do criador — como Duna, Roda do Tempo e Game of Thrones.
Trilogias e sagas sempre proporcionam um mergulho profundo em seus universos. Ao longo das páginas, nos conectamos com famílias, povos, mundos inteiros — ao ponto de nos sentirmos parte deles. Viver com os personagens, torcer por suas conquistas, lamentar suas perdas… Tudo isso é potencializado quando acompanhamos uma série de livros ao longo dos anos.

Mas, claro, escrever uma saga é muito mais desafiador do que concluir um único volume. Exige planejamento, persistência e, às vezes, até um segundo autor para dar conta do recado. Nesta lista, trago algumas das séries mais aclamadas da literatura que demoraram anos (ou décadas!) para chegar ao fim — e outras que ainda estão no limbo da fantasia. Prepare seu marcador de páginas — e sua paciência.
As Crônicas de Gelo e Fogo – Revolucionário para a fantasia — e que talvez nunca termine

Acho que esse já seria conhecido por todos. Game of Thrones furou a bolha da ficção e fantasia (com ajuda da série de TV) em grande parte pela forma como G.R.R. Martin nos coloca nesse universo medieval.
Temos dragões, caminhantes brancos, temos magias e coisas misteriosas. No entanto, ao meu ver, o que fez essa série ser um sucesso tão grande vai além disso: não há um personagem principal. Acompanhamos o ponto de vista de cada reino e suas decisões. Todos os personagens têm sua importância. É real.
Há muita trama política, ótimos diálogos e questionamentos. É possível encontrar leitores torcendo para um ou outro personagem sentar no Trono de Ferro no fim da guerra — porém, até hoje, não temos essa resolução.
Assim, mesmo com o fim da série de TV (que trouxe muitas críticas sobre o final — e eu concordo), nos livros ainda não temos um desfecho. George Martin continua escrevendo outras coisas, participando de produções e projetos, mas os livros seis e sete seguem sem publicação desde 2011.
A explicação tem muitas controvérsias e teorias. Talvez ele esteja envolvido com tantos projetos que simplesmente não consegue finalizar. Outros acreditam que ele teme entregar um final parecido com o da série, que foi mal recebido. Há ainda quem ache que Martin não sabe como encerrar tantas tramas abertas, já que muitos personagens e núcleos se desenvolveram ao mesmo tempo.
Sou um daqueles que espera ansioso pelo final desses livros — mesmo que não siga o ideal que eu imagine.
Duna – A ficção científica que moldou o gênero, mas perdeu seu criador no caminho
O universo de Duna de Frank Herbert são considerados parte do pilar da ficção científica moderna. Ele é tido como um dos maiores autores do gênero e influenciou incontáveis obras posteriores — especialmente aquelas com temática de impérios espaciais e messianismo. Mesmo sem ter lido, sei o quanto ele foi referência direta para o surgimento de Star Wars, por exemplo.

Herbert escreveu seis livros da série antes de falecer, em 1986, vítima de câncer. Após isso, seu filho Brian Herbert assumiu o legado, lançando novos romances em parceria com Kevin J. Anderson.
Contudo, muitos fãs afirmam que os novos livros fogem ao estilo de Frank Herbert, carecendo da profundidade filosófica e política que tornou a série original tão respeitada. Não tenho opinião formada sobre essa diferença, mas quero muito ler todos. Fico curioso: será que havia muitos manuscritos deixados por Frank? Ou estamos lendo apenas interpretações?
Histórias da Terra-Média – O mundo que definiu a fantasia moderna
Se G.R.R. Martin já furou a bolha, o que podemos dizer de J.R.R. Tolkien? É inegável que ele foi um dos maiores autores literários do século XX — o homem que praticamente moldou o gênero da fantasia moderna e definiu o que hoje entendemos como jornada do herói.
Por exemplo, todos conhecem O Hobbit e O Senhor dos Anéis. E se você não leu os livros, provavelmente assistiu aos filmes, jogou algo relacionado ou, mais recentemente, viu a série de TV Anéis de Poder.
No entanto, o que talvez você não saiba é que essas histórias se passam apenas na Terceira Era da Terra-média — e que há muito mais antes e depois disso. Existem vários outros livros ambientados nesse universo, publicados graças ao trabalho incansável de Christopher Tolkien, filho do autor.
Como Tolkien deixou muitos manuscritos, fragmentos e notas, seu filho organizou boa parte desse material em obras como O Silmarillion, Contos Inacabados e A História da Terra-média. Contudo, muitos dos contos estavam incompletos — e fica a sensação de que, se Tolkien tivesse vivido mais, teríamos versões diferentes, complementos e, quem sabe, novas histórias.
É um mundo tão vasto que gostaria muito de ter visto tudo por completo, apesar de já me sentir realizado com tudo que li dele até aqui.
A Roda do Tempo – Um ciclo épico de livros
O autor Robert Jordan iniciou sua saga em 1990, com O Olho do Mundo. Inicialmente, planejava apenas seis livros. No final, A Roda do Tempo contou com 14 volumes + um prequel — e se tornou uma das séries mais respeitadas da fantasia moderna.
Além disso, é impressionante como Jordan conseguiu expandir seu universo com quantidade e qualidade. Os volumes finais (do oitavo ao décimo quarto) alcançaram vendas absurdas e ajudaram a série a conquistar prêmios importantes, como o Hugo Award.
Porém, Jordan foi diagnosticado com amiloidose cardíaca, e mesmo doente, fez planos para encerrar sua saga. Deixou anotações e esboços, além de instruções sobre quem poderia assumir seu lugar caso ele não resistisse. Assim, após sua morte, o escolhido foi Brandon Sanderson, que concluiu a história com três livros adicionais.
Foi um encerramento digno, com respeito ao legado do autor original. Mas fica o sentimento de que Jordan ainda teria muito a nos contar se estivesse vivo.
Mistborn – Um plano grandioso em quatro eras — ainda no meio do caminho
Falando em Brandon Sanderson, esse escritor é hoje um dos que mais produz constantemente sobre fantasia. Ele escreve muito — e escreve bem. Com mundos vastos, magias únicas e narrativas envolventes, já conquistou leitores no mundo inteiro.
Dentre suas obras, Mistborn é uma das mais ambiciosas. A saga está planejada para ter 13 livros, divididos em quatro eras – e já contamos com duas eras finalizadas:
- Era 1: Uma trilogia ambientada num mundo medieval, com uma magia baseada no uso de metais.
- Era 2: Quatro livros, 300 anos após os eventos da primeira era, com um clima de velho oeste — trens, armas de fogo, e ainda assim, a mesma magia presente.

Portanto, dado o histórico de Sanderson, acredito que a saga será finalizada. No entanto, me preocupa o fato de ele estar sempre alternando entre várias sagas — o que naturalmente pode atrasar o desenvolvimento de Mistborn. O último livro da segunda era foi publicado em 2017, e ainda não temos previsão concreta para a terceira. Mas, sinceramente?
Não me deixe reclamar muito: quanto mais livros desse autor incrível, melhor!
As Crônicas do Matador do Rei – A fantasia que conquistou leitores com uma lira na mão
Se você gosta de fantasia e ainda não ouviu falar de As Crônicas do Matador do Rei, pare tudo agora. Essa é uma daquelas séries que, mesmo inacabada, já marcou profundamente a literatura fantástica moderna.
A história gira em torno de Kvothe – um músico talentoso, aprendiz de mago, órfão e, eventualmente, um homem lendário. A narrativa é dividida entre o presente (em que Kvothe já está escondido sob outra identidade, contando sua história) e o passado (onde realmente vemos seus feitos acontecerem). A escrita é poética, introspectiva e melódica — Patrick Rothfuss escreve como se estivesse tocando uma harpa com as palavras.
O primeiro livro, O Nome do Vento (2007), é um início impressionante: envolvente, misterioso e cheio de camadas emocionais. Em 2011, veio O Temor do Sábio, com quase mil páginas — e um Kvothe mais amadurecido, porém ainda cercado por incertezas e conflitos não resolvidos. A expectativa, naturalmente, era que o terceiro e último livro, As Portas de Pedra, encerrasse a trilogia logo nos anos seguintes.
Enquanto isso, já se passaram mais de 13 anos desde o segundo volume. E o terceiro livro? Nada. Só promessas vagas, entrevistas desconfortáveis, declarações como “estou escrevendo do meu jeito” ou “não quero lançar algo que não seja perfeito”.
Rothfuss passou por problemas pessoais, está envolvido com outros projetos (como seu trabalho com caridade e participação no universo de The Kingkiller Chronicle em jogos de RPG), e também sofre com a pressão absurda dos fãs — e, convenhamos, deve ser assustador tentar terminar uma trilogia que já virou culto.
Seria bom demais ver o fim da história. Saber o que levou Kvothe a se esconder. Descobrir se ele matou mesmo um rei. E, principalmente, entender por que ele parece tão vazio no presente, quando seu passado era repleto de brilho e promessas.
Patrick, se você estiver lendo isso: a gente ainda te ama. Mas, por favor, libera As Portas de Pedra. Nem que seja com uma dedicatória assim: “Foi o melhor que consegui.”
Considerações finais
Escrever uma saga é um projeto de vida — e, às vezes, a vida não colabora. Morte, bloqueios criativos, pressão editorial, novos projetos… Tudo isso pode fazer com que histórias que amamos fiquem suspensas no tempo.
Esperamos, torcemos e, muitas vezes, revisitamos esses universos, mesmo sem saber se um dia eles terão um fim. Algumas histórias ficam eternamente abertas — e talvez seja isso que as torne ainda mais mágicas.
E você?
Qual dessas sagas você acredita que poderia ter sido diferente?
Tem alguma que não citei aqui e que te deixa de encabulado por um final do autor original?
(Eu mesmo já me remeto a alguns Mangás, que fico aflito por um fim)
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Se tiver mais interesse em livros não tão conhecidos de Tolkien, acesse meu post anterior sobre Os filhos de Hurin.